Educadora sexual para adultos, Carmo Gê Pereira faz workshops e dá aconselhamento privado nas áreas da educação e formação sobre práticas, identidade, orientação sexual e formas de estar, no contexto da diversidade e aceitação.
Como decidiu dedicar-se à educação sexual?
Comecei há dez anos a vender sex toys. E como as pessoas acabavam por me contar aspetos muito íntimos da vida delas, eu senti que era eticamente muito pouco correto eu não prosseguir nenhum tipo de formação perante isso. Portanto comecei a fazer cursos de Sexologia, depois fui para mestrado em Estudos sobre Mulheres, no Porto. Foi a altura em que me politizei, em que saí do armário como feminista e em que também encontrei um enquadramento crítico ao nível do meu trabalho no feminismo. Foi também nessa altura que comecei a fazer workshops.
Que tipo de workshops faz?
Tenho o workshop de pompoarismo, que é a arte de controle e movimento dos músculos vaginais, ao qual juntei numa certa altura um workshop de autoerotismo. Vi e ouvi imensas vezes este sentimento quase dissociado do próprio corpo, em que havia a questão de pessoas que tinham uma vida sexual que consideravam saudável, mas por exemplo nunca se tinham masturbado. E então havia esta noção de que a sexualidade não era delas, o que pode ser um dos problemas desta tal educação sexual mais centrada no afeto. Portanto eu fiz um workshop dedicado a reconhecermo-nos e reencontrarmo-nos connosco fisiologicamente e depois percebermos como é que a cultura e a sociedade afetam a forma como nós nos relacionamos com o nosso corpo, e desmontarmos isso, e também depois genitalizarmos a sexualidade e para o fim do workshop haver um momento de desgenitalizar. Perceber que o corpo inteiro é muito mais sexual após o conhecimento dos genitais e que a nossa sexualidade vai para além disso.
O que acha mais importante no seu trabalho, que seja mais necessário comunicar ou transmitir?
Seria muito importante haver uma educação sexual desde a infância que acompanhasse as pessoas ao longo da vida. Uma educação centrada mais no prazer, com uma abordagem sex-positive. Que significa ter uma visão crítica da sexualidade, incorporando-a como mais um aspeto da vida, sem entrar nesta expetativa social que por um lado é pecado e por outro lado é o que nos torna seres válidos; parece que a sociedade anda nestes dois oitos e oitentas.
Faz também aconselhamento para casais. Que questões ou problemas acha os mais comuns?
Comunicação. É muito engraçado como as pessoas começam a desbloquear quando começam a falar. Há uma cristalização do guião: as pessoas conhecem-se e começam com certas práticas e passam 10 anos e a pratica não muda, mas a sexualidade delas muda. Então o que é preciso é haver uma redescoberta de quem está ao nosso lado, de quem somos neste momento, porque sempre vamos mudando, o que é um processo maravilhoso. Também é importante não sermos tão exigentes em relação com o nosso corpo. As coisas não têm que ser de uma determinada maneira, são o que são, podemos olhar para elas, vivenciá-las com mais à vontade e dando-nos também este espaço para crescer, manter, mas sem objetivos. Uma sexualidade com objetivos pode ser extremamente castigadora.
Ainda acha que se fala pouco sobre a sexualidade? Que continua a ser tabu?
Não é que se fale pouco. É que se fala sempre da mesma maneira. O sexo já não é um tabu. O que é um tabu é a diversidade na sexualidade.
Entrevista e fotos: Borbála Kristóf