Elisabete Jacinto: “Há gestos que fazemos que são absolutamente discriminatórios na educação e nem paramos para refletir um bocadinho sobre isso”

Elisabete Jacinto

Elisabete Jacinto é a única mulher a pilotar um camião em competições todo o terreno com regularidade. Era professora de Geografia até decidir que a sua paixão pelo todo o terreno merecia a sua dedicação a 100%. Não se esquece nunca dos desafios acrescidos que uma mulher nesta modalidade enfrenta, e espera poder ser um exemplo para jovens que queiram quebrar estereótipos.

 

Para começar, gostava de lhe perguntar sobre o seu percurso. Como é que se descreve?

Apesar de todas as coisas que tenho feito eu considero-me uma mulher perfeitamente comum, igual a todas as outras. Tive uma infância absolutamente normal, uma educação super clássica, daquelas que dizem que os homens fazem uma coisa e as mulheres fazem outra completamente diferente. Estudei, tirei o curso de Geografia, tornei-me professora. Mais tarde, quando estava já a leccionar, eu e o meu marido decidimos tirar a carta de mota. Eu porque não tinha ainda carta de carro e ele porque tinha tirado carta de carro e não tinha ainda de mota. Tirámos a carta de mota e comprámos uma mota para os dois, uma 125 daquelas de guarda lamas alto, tipo motocross. Nessa altura o Jorge estava a trabalhar numa empresa: tínhamos um carro (ou ele tinha um carro, não é, que já era dele). Ia para o emprego todo engravatado, de carro, e a mota ficava na garagem. Então eu comecei a utilizar a mota como meio de transporte na cidade.

 

Estamos a falar de que ano, mais ou menos?

1985/86, por aí. Para mim tinha uma certa graça. Mais tarde, pela graça de ter uma mota tipo motocross, inscrevemo-nos num clube todo o terreno. Lembro-me de ir fazer um passeio com o Jorge. Nessa altura ele já tinha decidido comprar uma mota maior para ele: porque um homem não anda de 125, não é? E então já tinha cada um a sua mota: eu andava com a 125cc e ele andava com a Honda de 600cc. E fomos fazer um passeio que era a Ronda dos Castelos, ao qual eu fui sem experiência. Mas no final olhámos um para o outro e pensámos que tínhamos descoberto o hobby da nossa vida. E foi aí que começámos a brincadeira de todo o terreno a sério – comprámos as revistas da especialidade, líamos os conselhos dos craques e depois ao fim de semana tentávamos pô-los em prática. Era uma galhofa enorme, nós os dois sozinhos ou então com um grupo de amigos. As passeatas começaram a ser cada vez mais animadas e o grupo cada vez maior. E a certa altura há um deles que decide fazer uma prova de competição, e desafia todos os outros para a ir fazer. Eu, claro, como boa mulher pus-me logo à parte, mas eles olharam para mim e disseram que eu também tinha de vir, que existiam outras raparigas e que eu sabia andar bem. Lembro-me que era o Grândola 300, uma prova em Grândola com 300km. Foi em 1992 que fiz essa primeira prova, já tinha eu os meus 27 anos. E a a partir daí nunca mais parei de fazer corridas até hoje. E foi sempre uma luta muito grande comigo própria para conseguir fazer mais, mais e mais. Porque de facto no princípio quando comecei a andar de mota com eles eu tinha muitos medos: tinha medo de subir, de descer, de curvar à direita, à esquerda… E depois fui fazendo muitas conquistas. Foi essa gestão dos medos, das minhas ansiedades e das minhas inseguranças que me fizeram levar o desporto de uma forma muito séria e fazer sempre mais e mais. E até hoje tenho estado sempre num processo de conquista que não acabou até agora.

 

Como começou o seu percurso nas competições?

Comecei a fazer provas do campeonato nacional. No início era só sobreviver e chegar ao fim. Depois comecei naquela brincadeira da Taça das Senhoras. Depois pensei: “Vamos lá ver se consigo resultados na Geral!”. Depois pensei em fazer uma prova em Espanha, e não dormi a pensar que não ia conseguir fazer. A primeira prova correu muito bem, tive um bom resultado e fiquei toda entusiasmada. A segunda prova tinha 630km. Ui, como é que ia conseguir fazer 630km? Aquilo foi uma coisa muito séria. Lembro-me de parar numa zona de assistência completamente exausta de cansaço e dizer ao Jorge que não aguentava mais. E ele dizia “Claro que te aguentas! Olha, o não sei quantos já desistiu, o outro está atrás de ti, o outro não passou…”. E eram todos fulanos que eu pensava que eram melhores que eu. E de repente pensei que se calhar não estava a fazer assim tão mal. Depois de comer, lá fui eu.

Elisabete Jacinto

 

Disse que era professora de Geografia. Em que ponto é que começou a pensar “Isto não é para mim”?

A partir daí foi a minha desgraça. O Dakar era considerado uma prova só para homens de barba rija: partiam 200 ou 300 rapazes e chegavam 20 ou 30 ao final. Eu achava que era a super mulher, que tinha uma enorme força de vontade, um espírito de sacrifício enorme, que era capaz de fazer o mesmo que eles. Convenci-me verdadeiramente disto e comecei a preparar o Dakar, uma obsessão abosluta: eu era capaz, eu ia fazer, eu queria fazer. Tive imensos contratempos, não consegui terminar o primeiro Dakar, desisti porque a mota teve vários problemas mecânicos. Consegui superar alguns, mas depois houve um que me deitou abaixo e tive mesmo de vir para casa. Mas como tinha sido a mota e não tinha sido eu, queria continuar a fazer. Tentei um segundo ano. Na etapa mais dificil, da Mauritânia, parti o motor e tive de desistir. E de repente as coisas começaram-se a tornar muito sérias. “Já tentei duas vezes, não consegui vez nenhuma. As duas vezes foram por causa da mota. Sei que sou capaz, mas se calhar tenho de me preparar melhor”.  Pedi uma licença sem vencimento na escola e comecei-me a dedicar a 100% ao desporto. E percebi que de facto se uma pessoa quer fazer uma coisa bem feita tem de se dedicar a ela. Os dias parece que cresceram e eu comecei a fazer e a pensar em muitas coisas para me preparar nas quais nunca tinha pensado. E isso para mim foi de facto importante. No terceiro Dakar – que eu já consegui terminar – ganhei a Taça das Senhoras e tudo, foi excelente! Mas na verdade foi só em 2003/2004 deixei mesmo de dar aulas.

 

E como é que esta sua vitória foi recebida?

Estavam imensos portugueses à beira das pirâmides (nesse ano o rally tinha acabado no Egito), e havia imensas pessoas que me davam os parabéns. Mas no final todas as pessoas sem excepção me davam aquelas palmadinhas nas costas e diziam-me “Mas tiveste sorte que o Dakar este ano teve menos quatro dias”. E eu dei comigo a pensar se eu seria capaz.  Lembro-me de chegar a casa e de o Jorge me dizer que se calhar estava na altura de deixarmos a competição. E eu disse: “Não, porque ninguém acredita que eu sou capaz de fazer o Dakar se o Dakar tiver os dias todos. Eu quero fazer, e quero provar a toda a gente que sou capaz”. A vida tem coisas muito estranhas, e coisas que às vezes nos fazem pensar. O que eu lhe disse a ele é que eu queria fazer um Dakar duro, difícil, provar a toda a gente que era capaz de fazer. E foi isso que eu tive. Realmente o próximo Dakar foi extremamente difícil, teve um percurso levado da breca. O meu carro de assistência pisou uma mina na fronteira de Marrocos para a Mauritânia. As pessoas foram todas evacuadas, eu fiquei sozinha e sem nada! Senti-me completamente perdida, sem saber o que é que havia de fazer, de pensar, e telefonei para Portugal. E a pessoa que falou comigo disse-me “Oh Elisabete, a última coisa que o Zé Ribeiro quer é que a Elisabete desista!”. Vou-lhe dizer que caí 300 mil vezes e 300 mil vezes me levantei. Parti três costelas, fiz uma lesão na virilha que para me montar na mota levantava a perna muito devagarinho (as pessoas olhavam para mim a ver quando é que caía), parti três ossos no metatarso, e tinha de pegar no braço para o pôr em cima do volante, que ele não ia lá sozinho. Mas no final eu tive a certeza absoluta que 90% dos rapazes que lá estavam não teriam acabado se se vissem nas minhas circunstâncias, e eu acabei. Portanto eu tinha conseguido aquilo que eu queria, um Dakar duro e difícil.

 

Isso foi tudo de mota, certo? Como é que acabou a ser piloto de camião?

Depois desse Dakar voltei a dar aulas, porque como não fiz nenhum resultado desportivo digno de aparecer nos jornais os patrocinadores cortaram-me a verba. Comecei a ponderar deixar a competição e lembro-me de um dia vir na rua e de tomar a decisão que tinha tanta dificuldade em tomar. Decidi: “Pronto, acabou. Vou deixar a competição, vou deixar as motas”. E no segundo seguinte dei por mim a pensar assim: “Espera aí, porque é que eu não faço camião? Camião é muito giro, nunca nenhuma mulher fez”. E de repente imaginei-me dentro do camião a saltar as dunas como eu via na televisão, e aquela imagem ganhou uma força tal… Tirei a carta de pesados nesse ano, fiz o exame em outubro e em janeiro estava a fazer o Dakar de camião. Portanto, nesse ano eu ainda estava a dar aulas. Esse Dakar foi extremamente difícil: como deve imaginar eu não sabia nada, a minha experiência era de mota. Vivi todas as histórias que se possam imaginar sobre as dificuldades que se podem ter num Dakar, desde virar o camião, a ficar para trás, a ter de fazer não sei quantos quilómetros sozinha fora de corrida para apanhar a comitiva do rally, a ter de ajudar o outro piloto da equipa que se tinha virado nas dunas… Mas no final eu dei comigo a pensar “Não, eu de camião posso ser muito mais competitiva do que era com a mota. Posso fazer os resultados que eu não fiz com a mota”. De repente consegui criar condições para fazer camião e então percebi que não conseguia acumular as duas atividades, porque o camião é muito mais exigente, puxa muito mais por nós, e eu precisava de tempo para me preparar, preparar o camião e tudo o mais. E foi aí que eu comecei naquela onda das licenças sem vencimento, nas dispensas de serviço, e a partir daí nunca mais retomei.

 

Já agora, até por curiosidade. Quais são os desafios específicos de um camião e as grandes diferenças face à mota?

A mota é um veículo extremamente físico, onde conduzimos com o corpo. A minha mota do Dakar pesava 200 quilos. E é um veículo muito solitário. É um veículo extremamente violento nesse sentido: temos de ser autónomos, temos de fazer tudo. Navegamos, conduzimos, se tivermos problemas de mecânica temos de resolver, estamos imensamente desprotegidos, expostos ao frio, ao calor, a tudo. Não temos comida, não temos água, e temos de sobreviver a isso tudo. Mas foi graças àqueles anos que fiz de mota que tive coragem e consegui fazer de camião. O camião é um veículo muito diferente, ele nasce para andar devagar, para carregar carga, e nós queremos levá-lo para corridas a andar depressa, a andar ligeiro. Portanto é um veículo que naturalmente não é concebido para aquilo que queremos fazer com ele. É muito grande, muito pesado, muito alto, muito largo, muito comprido, com uma caixa de velocidades super difícil, e nós queremos fazer com ele o que fazemos com as motas. Portanto eu vou sentada, posso comer quando quero, posso ligar a soflagem e aquecer a cabine se for caso disso, tenho montes de coisas na caixa de carga, tenho mais duas pessoas ao meu lado. Mas é difícil em termos psicológicos. É muito violento porque todos os problemas são à dimensão do camião. Todas as dificuldades são à dimensão do camião. Um piloto de camião tem que ser perfeito. Não pode ter dúvidas porque não pode errar. Se eu perante uma situação tiver dúvidas se o camião passa ou não passa, eu pura e simplesmente já não passo, porque eu não me sujeito a pôr o camião em más condições.

 

Como é que a Elisabete consegue continuar a pilotar camiões quando a maioria das mulheres acaba a desistir?

Eu se calhar dou mérito ao meu marido, que trabalha comigo. Se ele não estivesse ao meu lado eu já tinha deixado há muito tempo. É um trabalho de equipa. E se calhar também tenho de dar mérito aos meus patrocinadores, que têm estado ao meu lado estes anos todos, porque sem eles eu não fazia nada. Eu trabalho muito, é um facto. Dedico-me de corpo e alma, faço todos os sacrifícios que sejam necessários para continuar a correr, mas se me faltassem esses dois pilares eu caía logo para o lado e não tinha possiblidades por maior força de vontade que tivesse. É um desafio muito pessoal, é um facto. É uma luta que eu quero vencer, chegar ao topo da classificação geral. Era o meu sonho com a mota, fazer um brilharete nas corridas, mas nunca consegui. E é o que eu quero fazer com o camião. Dou tudo por tudo, mas tenho que reconhecer que eu tenho um apoio muito grande que se calhar as outras raparigas que apareceram não tiveram. Deixe-me contar uma história gira. Quando eu ganhei o rally de Marrocos houve um jornalista marroquino que foi fazer uma entrevista ao Jorge e não a mim. E perguntava-lhe “Você não acha que uma mulher ganhar a categoria dos camiões desvaloriza a modalidade?”. Isto traduz aquilo que as pessoas pensam quando eu tenho bons resultados. De facto é duro, é difícil, só homens fazem. Mas se há uma mulher que faz então não é assim tão difícil. Não é um “Ela é suficientemente boa para fazer como eles.” Ou é levada ao colo, ou não fez o caminho todo, ou alguém a levou, ou alguém conduziu por ela.

 

Há vários veículos num rally, não é? Tenho ideia que existem por exemplo mais mulheres nos carros, é verdade?

Sim, muitas como navegadoras, porque têm a capacidade de ficar concentradas muito tempo. Aparecem algumas como navegadoras, e como condutoras poucas. Há algumas, mas não muitas. Contam-se pelos dedos.

 

Mas porquê? Tem alguma ideia?

É assim: dizem – ou está escrito nos livros – que as mulheres têm uma menor capacidade de entendimento espacial do que os homens, e de facto a condução exige uma leitura de espaço muito grande. Esta poderá ser uma das razões. Outra razão é que as mulheres se defendem muito mais do que os homens dos perigos e dos acidentes. São menos arrojadas a situações periogsas. Por outro lado, e eu acho que de todas esta é a razão principal, tem a ver com a nossa educação. Somos educadas numa segregação enorme de atividades, de ideias, de pensamentos, de tudo. Somos habituadas a que uma coisa seja para os rapazes, outra para as raparigas, eu não posso fazer aquilo porque aquilo é dos meninos, os meninos é que fazem. E crescemos assim.

 

E mesmo que tenha conseguido quebrar esse estereótipo, se calhar há pessoas que ainda só a vêem como uma mulher num desporto de homens…

Vou-lhe contar. Porque é que eu consigo estar aqui hoje? Porque eu decidi fazer corridas de camião. E como não havia mulheres a conduzir camiões eu tive um sucesso enorme, apareci nos jornais todos. Se calhar apareci mais nos jornais por dizer que ia fazer uma corrida de camião do que quando ganhei uma geral. Mas apesar de todos os jornais terem posto a minha fotografia a dizer que tinha feito o Dakar de camião, ninguém, absolutamente ninguém acreditava que fosse eu a conduzir o camião. Nem os meus colegas de rally de mota acreditavam. Perguntavam todos assim: “Então e quem é que conduz o camião?”. Não era evidente que fosse eu a conduzir o camião. De forma que os primeiros rallies que eu fiz – e ainda hoje tenho essa tendência – eu agarrava-me ao volante e não largava nunca. Eu conduzi de dia e de noite. E não havia ninguém que visse o meu parceiro do lado a conduzir o camião por mim, porque eu já sabia que se houvesse alguém que dissesse “Eu vi o não sei quantos a conduzir” era o descrédito absoluto. E eu precisava muito dessa credibilidade para conseguir patrocínios e para conseguir continuar a correr. Por isso, cá está, é o preconceito e o estereótipo. “O camião é para homens”. Aquele preconceito que se tem muito enraizado na nossa cabeça, porque é assim que as nossas mães nos ensinam, e é assim que ainda hoje a gente ensina os nossos filhos. Não pensamos, não questionamos… Porque ninguém ensina ninguém a educar, não é? Nós fazemos como os nossos pais fizeram connosco, reproduzimos e não questionamos sequer. E há gestos que fazemos que são absolutamente discriminatórios na educação e nem paramos para refletir um bocadinho sobre isso.

 

Elisabete Jacinto

 

Acha que ajudou a quebrar estereótipos na escola, quando era professora?

Os miúdos adoravam a sua professora de Geografia porque ela chegava de mota, de capacete enfiado no braço. Isso era um facto. E as miúdas começaram a perceber que as raparigas também podem andar de mota. Lembro-me de uma situação muito constrangedora que eu tive uma vez com a mãe de uma aluna (que era minha colega na escola). Ela veio ter comigo e disse “Por favor Elisabete, faz o que puderes para tirar da cabeça da minha filha esta ideia maluca que ela tem de querer andar de mota. Porque eu não vou conseguir suportar ver a minha filha a andar de mota”. E eu senti-me muito mal nesse momento. Porque achava que era um bom exemplo, de prática do desporto, de associar o desporto ao estudo, ao trabalho, aquelas coisas todas. Continuei a fazer a minha vida tal e qual, mas de facto percebi que eu de certa forma era um modelo para as miúdas, ou pelo menos que as fazia questionar qualquer coisa.

 

Como é que se sente com o facto de ser a primeira mulher a pilotar camiões? É algo que a leva para a frente e a motiva?

Nós vamos buscar incentivos aqui e acolá. Eu não lhe contei muitas histórias que tenho para contar, mas no meu primeiro Dakar, eu tive de pedir dinheiro emprestado para participar porque não consegui patrocínios. Eu andei aí a bater à porta de todas as empresas do país. Consegui a mota, depois consegui um patrocínio para as inscrições mas precisava de dinheiro para as outras despesas todas. Fiz aqueles dias de Dakar com muitas dificuldades. Tive muitos problemas mecânicos. E desisti. E quando cheguei a casa, completamente deprimida e de rastos, comecei a ver o que é que tinha saído nos jornais sobre mim. E há um jornalista que tem a coragem de escrever uma coisa que me abanou completamente, foi como se eu levasse assim um bofetão na cara, daqueles bem fortes. Ele dizia-me assim “Já vi várias mulheres terminarem o Dakar, mas francamente, tinham corpo de homens. Não acredito que esta menina de aspeto frágil consiga sobreviver a mais de uma semana” ou de sete dias, ou algo desse género. Mas isto só para dar o exemplo de situações que nos põem para fora. Há muitas. Muitas. No nosso dia a dia estamos constantemente a enfrentá-las. Outro exemplo que lhe vou dar: nós vamos para as corridas e compramos imagens de televisão, e distribuímos as imagens pelas televisões. Se eu fizer um bom resultado, as televisões podem pôr uma imagem minha (para mim é bom, para os patrocinadores também, mas temos nós de a pagar). E havia um canal de televisão que falava do rally, falava de toda a gente, punham imagens de todas as pessoas e minhas nunca punham. E passou uma corrida, duas, três, quatro, e um dia a rapariga que me faz a assessoria de imprensa decidiu perguntar se havia algum problema com as imagens, porque nunca punham imagens minhas. E o jornalista dizia “A Anabela tem de perceber, a Elisabete está lá porque é senhora…”. E a Anabela dizia “Não, a Elisabete ganhou os camiões no rally de Marrocos”. “Ela ganhou mas foi as senhoras!”. “Não, a Elisabete não ganhou as senhoras, a Elisabete ganhou a geral dos camiões, ganhou a corrida na categoria camião.” “Mas oh Anabela, tem de compreender que como ela é mulher não faz sentido…”. Isto é só um exemplo, mas temos muitos, muitos. Com aquilo que eu já tenho feito, se eu não fosse mulher já tinha aí um destaque enorme.

 

Entrevista: Inês Fernandes | Fotos: Borbála Kristóf

 

1 Response

  1. Concordo em tudo em relação ao que disse a Elisabete Jacinto, sem duvida alguma que os nossos gestos são deverás importante na nossa sociedade e podem fazer toda a diferença, otimo e excelente artigo!

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