Margarida Marques não sabia, mas acompanhou de perto as preparações do 25 de Abril. Também participou ativamente nas Crises Académicas e foi uma das fundadoras, mais tarde, da Aliança para a Democracia Paritária, que construiu um argumentário, agora atualizado, para a Democracia Paritária. Sempre esteve no terreno, participando, nos anos 80, na criação de um Programa de Formação e Capacitação destinado a mulheres portuguesas emigrantes nos principais países da então Comunidade Europeia.
O seu pai foi o coronel Marcelino Marques, figura importante do 25 de abril. Como viveu esta época?
Quando foi a altura do 25 de abril ele estava afastado para fora de Lisboa. Eu só tive consciência que havia qualquer coisa no ar, porque houve uma reunião do Movimento das Forças Armadas na cave da minha casa. E o meu pai disse-me a mim e à minha irmã: “vocês não viram nem ouviram nada, mas vão servir uns cafezinhos”.
Íamos para as aulas [durante a Universidade] com carros da polícia, com capacete e viseira, e sentíamos que as coisas estavam pelo fio da navalha. Fartei-me de fugir da polícia. Distribuíamos panfletos contra a ditadura e a guerra colonial e tínhamos que ter esconderijos. Também havia um sítio de recurso mas ninguém ia lá, só se houvesse algum incidente. Havia estudantes que eram apanhados, iam para a PIDE e ficavam à noite ou dias em interrogatórios. [Nas crises académicas] Eu participava em tudo! Manifestações, tomadas de posição, a bloquear os exames, etc.
Como era ser feminista antes do 25 de abril?
O ser feminista antes do 25 de Abril era uma questão que estava muito ligado a várias supostas manifestações em que diziam que as feministas queimavam os soutiens. Não havia ninguém a queimar soutiens, até porque os soutiens eram caros e ninguém estava para isso. As pessoas eram rotuladas. Se uma mulher se maquilhasse ou se se arranjasse um pouco melhor já não era [feminista], era mulher-objeto. Portanto, essa vivência não era uma vivência definida de feminista. As pessoas diziam que eramos rebeldes, púnhamos em causa o status-quo.
O que é que ainda falta ganhar na luta pela Igualdade de Género?
A igualdade, mesmo! Continua a haver diferenças salariais, a não haver partilha do trabalho doméstico e paridade na gestão das empresas. Sentimos que tudo o que fizemos foi uma gota de água. Porque aquilo que é o cerne dos direitos humanos não é apreendido desde criança. Não são formatadas, logo desde pequeninas, a ter respeito pelos direitos humanos. Vai-se mudando as vírgulas, porque se é obrigado por lei, mas é tudo com uma resistência à mudança gigante, como se estas mudanças fossem perigosas.