Dona Mercedes é natural de Guimarães de Tavares. É taxita há 42 anos, a primeira mulher com esta profissão em Mangualde. Já viveu em África, onde também foi pioneira, sendo a primeira mulher instrutora de condução.
Quando é que começou a trabalhar como taxista em Mangualde?
Há 42 anos. Eu e o meu marido comprámos as licenças e começámos logo a trabalhar, cada um com o seu carro. Atualmente tenho o CAP válido até 2020 e acho que não vou aguentar até lá, mas tenho muita pena. Faço isto porque gosto.
O que a levou a escolher essa profissão?
Em África fui instrutora de condução de automóveis durante 15 anos. Fui a primeira mulher instrutora de automóveis em África. Ainda hoje, estou muito ligada aos carros. Por vezes quando vou ao médico, o Dr. pergunta-me: “Dona Mercedes onde deixou o seu carro?” e eu respondo-lhe: “No parque Sr. Dr.”, e ele diz-me: “Porque não coube a porta, senão também entrava.” E eu respondo-lhe: “Encontro-me mais segura no meu carro, do que em minha casa” e o Sr. Dr. desata-se a rir. Estou ligada aos carros.
Como era ser a única mulher taxista em Mangualde, naquela altura?
Para mim foi sempre bom. Vou dizer-lhe uma coisa que não vai acreditar. Os meus clientes para mim, além de clientes, que me têm ajudado muito, são a minha família e os meus amigos. Eu adoro o meu trabalho. Ainda no domingo passado vieram dois senhores para me comprar a licença, não chegámos a acordo e não vendi porque está-me no sangue. O carro é a minha vida! Eu adoro o que faço.
Como reagiam as pessoas?
Chamavam-me de toda a parte. Mesmo a malta nova sabia toda o meu nome, eu passava e diziam: “Olha a Dona Mercedes!”.
Sempre foi respeitada?
Nunca ninguém me disse: “Chega-te para aí!”. Sou natural daqui de Guimarães de Tavares, esta casa era dos meus pais.Gosto muito de estar aqui, as pessoas falam comigo, eu falo com elas, rio-me com elas, pinto o “ceco e o caneco”, mas tudo com educação. Nunca ninguém me faltou ao respeito.
O que é gosta mais na sua profissão?
Gosto de tudo. Fui para África com 14 anos. Quando regressei não conhecia nada, o que é que podia saber a viver com os meus pais numa aldeia. Quando precisava ir a um sítio que não conhecia, perguntava a alguém, nem que fosse um rapaz novo. Falam muito mal da mocidade, mas eu não. Falo muito bem da mocidade, foi quem mais me respeitou neste meu trajeto. Eu perguntava a direção e o jovem a quem perguntava dizia-me: “A senhora não se importa que eu vá no seu carro que eu ensino-lhe?” . Metiam-se dentro do meu carro, com os meus clientes e iam-me ensinar. Fui sempre respeitada.
E o que gosta menos?
Nada. Gosto de tudo.
Onde gostava que o seu táxi a levasse?
Já corri Portugal inteiro. Ia com os meus clientes que vinham da América e ficava cinco e seis dias com eles. Pagavam-me a estadia, o tempo de espera. Agora já não é assim, agora há autocarros para todo o lado.
E qual é o destino que gosta mais de ir?
Acho que é a autoestrada para qualquer parte. Gosto de todo o lado. Quando entro para o meu carro, seja para onde for, não me faz diferença nenhuma. Pode ser de dia ou de noite. Não tenho medo, nunca tive medo. Há aqui uma vizinha minha ao cimo da rua e diz-me: “Ah Dona Mercedes, gostava de ser como você. Você vai de noite para todo o lado e não tem medo nenhum!” e eu digo-lhe: “Pois não! Porque o medo nasce do medo!”
De que é que tem mais saudades?
Só vou ter saudades de deixar o meu carro, porque o meu carro é a minha vida. Note bem, 42 anos de taxista e 15 de instrutora e graças Àquele que está lá em cima, nunca ninguém bateu comigo, nem eu com ninguém. Essa é uma honra que eu tenho.
O que é que lhe falta fazer?
Quero continuar a viver, até que Deus queira, ser amiga das minhas amigas. Eu agora tenho um senhor à minha espera em Mangualde, foi fazer análises e eu achei-lhe graça, porque eu disse-lhe: “Se eu demorar, tenho lá uma entrevista, você apanha outro chofer e vai para cima com ele.” Ele respondeu-me: “Eu? Ir com outro chofer? Era lá ir com outro chofer era o que faltava! Eu espero que a senhora venha!”.
Os meus clientes dizem-me: “Sabe porque é que gostamos muito da senhora? Porque a senhora está sempre bem-disposta!”. Às vezes nem sempre… Quando o meu marido morreu, pode haver marido tão bom, mas melhor do que ele não havia, eu senti muita falta dele. Esteve cinco anos sem trabalhar com um tumor no pulmão, eu trabalhei para mim e para ele. Quando ele morreu, era assim, ia levar as clientes a rir-me, a rir-me e e elas diziam-me: “Ainda bem que você está sempre bem-disposta!” e eu dizia: “Parece!”. Deixava os clientes e quando ficava sozinha no carro chorava e depois dizia: “Oh meu Deus, porque é que estou assim? É natural da vida!” até que me convenci disso, junto dos médicos, que se dão muito bem comigo, não só por mim mas porque levo lá os clientes, eles diziam-me: “Oh Mercedes, tens que encarar! Foi ele como podias ser tu! Ele já cumpriu e tu estás cá para cumprir!”. Digo-vos isso de verdade, quem vai morrendo, cumpriu, e quem fica cá, está cá para cumprir.
Quantos filhos, netos e bisnetos tem? O que é que aprendeu com eles?
Tenho dois filhos, quatro netos e quatro bisnetos. O que é que aprendi? Já aprendi tanto toda a minha vida, já vivi tantos anos!
De que forma considera que o seu percurso de vida contribuiu para diminuir as diferenças entre os homens e as mulheres a nível de igualdade de oportunidades?
Antigamente a mulher era um trapo, agora não, também impomos a nossa dignidade.
um belo trabalho dessas minhas filhas muito bem .
Conheci a D. Mercedes em Vila Pery – Moçambique, há longos anos…há mais de 50!!!
A escola de condução ficava frente àTipografia e Papelaria Gonçalves.
Os nossos filhos cresceram e brincaram juntos.
Admirei sempre a força de vontade e boa disposição da D.Mercedes.
Que continue com saúde e a conduzir o táxi.
Abraços
Tirei a carta de condução na escola da D. Mercedes e o Sr Andrade, foram meus instrutores…. grande abraço á D. Mercedes, que bom saber dela.
Um grande abraço para D.Mercedes. Senhora muito respeitada por todos. Meus pais sempre falavam dela e seu esposo. Eu tambėm a conheço e estive com ela algumas vezes. Desejo-lhe saúde e muito obrigada pelo seu bom trabalho e sempre boa disposição para todos. Sou filha do Rui Cabral e Ilda da Abrunhosa a Velha. Beijinhos.?
También me lembro da D Mercedes en Vila Pery, a minha Mae aprendeu a conduzir com ela e combo marido o Sr. Andrade. Bom saber dela! Beijos
A minha mãe aprendeu a conduzir com a D Mercedes e com o Sr Andrade. Eu andei na turma do Miguel. Que saudades
Não me esqueço da D.Mercedes e do Sr.Andrade. Foi com eles que tirei a carta de condução em Vila Pery. Adorei ter notícias dela. Que continue a ser sempre aquela mulher alegre que conheci. Desejo-lhe muita saúde sempre! Um beijinho para ela.