Sílvia Vasconcelos Lopes: “A mulher conquista por ela própria e as coisas aparecem porque têm que aparecer”

Sílvia Vasconcelos Lopes, Presidente do único Motoclube Feminino de Portugal.

Sílvia Vasconcelos Lopes, Motoclube FemininoSílvia trabalha na área da administração, mas desde pequena teve uma paixão pelas motas, o que a levou não só a percorrer o país, mas também a conquistar a sua liberdade. Exemplo de luta e força, a Sílvia é presidente do único Motoclube Feminino de Portugal.

 

 

 

Sentiste alguma vez discriminação a nível profissional pelo facto de seres mulher?

Não, até pelo contrário. Sou administrativa numa empresa que vende maquinaria de lavagem de automóveis e acho que foi a minha postura que me levou a conseguir o meu trabalho. Joguei futsal, fomos campeãs nacionais e posteriormente fui árbitra. Apitava a primeira divisão, a maior parte eram jogos masculinos. Era raro apitar jogos femininos, eu não gostava porque conhecia grande parte das raparigas que jogavam ainda na altura, porque eu tinha saído há pouco tempo.

 

E nos jogos masculinos, quando apitavas, os homens questionavam o teu trabalho?

Por vezes havia um certo desrespeito mais pela parte do público. Porque estranhavam, era anormal e continua a ser anormal. Mas não tenho razão de queixa. Acho que tem a ver com a postura. Se tu tens uma personalidade muito forte, dificilmente eles conseguem ultrapassar a linha, é a diferença como tu os abordas. Um jogo que eu pensei que ia ter muita complicação foi em Chelas. E foi a maneira que eu me apresentei perante eles: “Quem manda aqui sou eu. Se marquei uma falta, escusam de estar a reclamar porque não vou voltar atrás com a minha decisão, está marcada”. Foi o jogo mais tranquilo que eu tive na minha vida. Tem a ver como é que te apresentas. Não precisas de ser arrogante ou má, mas tens que mostrar um pulso firme, porque senão abusam de ti.

 

Quando é que descobriste a tua paixão pelas motas?

Desde muito nova. Tinha um tio que infelizmente morreu numa mota com a qual eu brincava no quintal. Até que aos 14 anos fui tirar a licença e a minha avó, apesar de ter morrido o filho, foi uma mulher corajosa por me dar uma mota. Foi a minha avó que não me cortou as asas. Atualmente tenho duas e teria muitas mais, se saísse o euro milhões, tinha uma mota de cada nação.

 

Quando é que se fundou o Motoclube Feminino?

Foi fundado por outras colegas em 2001 em Cascais. Somos um grupo de mulheres e é sempre mais complicado gerir um motoclube, não pelo facto da personalidade da mulher, mas pela vida da mulher em si. Casam-se, depois têm filhos, depois desaparecem durante uns anos, depois voltam a aparecer quando as crianças são maiores. O motoclube feminino tem altos e baixos devido a isso. No dos homens já não se nota isso porque os homens não têm tanta responsabilidade perante os filhos, perante uma casa e, portanto, perante a família. Na mulher há uma responsabilidade acrescida e ela própria sente que há, mesmo que não seja pressionada para, há mesmo, existe mesmo. Nos no nosso íntimo somos assim, primeiro é a nossa família e depois o nosso lazer. Por isso é que deixamos às vezes de ter o resto porque prescindimos de tudo em função da família.

 

É o único Motoclube feminino de Portugal?

O nosso é realmente o único motoclube feminino em Portugal, mas também lidamos com motoclubes masculinos, eles apoiam-nos, fazem passeios connosco.

Nós fazemos um evento só para as mulheres, perto do dia da mulher, comemorativo deste dia, por isso é só exclusivo às mulheres, todos os outros eventos são para todos aqueles que queiram participar, tais como os maridos das nossas colegas, amigos e outras pessoas de outros motoclubes, todos são bem vindos para passearem connosco, viajarem connosco e estarem connosco. Associadas, a usar o nosso Pano , só mesmo mulheres.

Dois grupos motards, supostamente femininos, tentaram criar um evento há pouco tempo, contudo, não se tratava de grupos motards femininos, o intuito foi atrair público masculino, para um evento que nada tinha a ver com motoclubes femininos, mas sim, um evento direccionado para a parte automobilista, ou seja de carros e não de motos.

Eu não me importo que existam mais clubes femininos, até pelo contrário, acharia bom e benéfico, o que eu acho negativo é a mulher não ter um pulso e dizer: “a gente faz isto por nós, para nós e somos nós que vamos lutar”. Como eu luto pelo meu motoclube, como presidente, para conseguir mil e uma coisas. Porque é que elas estão debaixo da sombra dos homens? Não há necessidade. Eles apoiarem e ajudarem é uma coisa. Elas serem servidas para os objetivos deles, acho tão negativo… E acontece. Eu gostava que realmente existisse, mas que existisse da mesma forma como nós existimos. Não de baixo da alçada dos homens.

 

Sílvia Vasconcelos Lopes, Presidente do único Motoclube Feminino de Portugal

 

Será que a mulher precisa mais autoconfiança porque tem sido muito desvalorizada?

Quando eu fiz um dos eventos, um passeio, não há muito tempo, eu apresentei a minha 125 cm, elas vem-me com esta mota, igual às que elas têm e aí vêem que também elas podem participar e rolar connosco, não se sentindo inferiores a ninguém, e eu levei a minha 125 a este passeio e até publiquei uma foto, e como brincadeira disse: “a mãe hoje fica em casa, vai a filha”, para outras mulheres irem, e realmente foram. Que medo que elas tinham de passar vergonha ou sentirem-se inferiores, porque as suas motas eram de cilindrada inferior às da maioria das outras meninas. Eu não me senti nada inferior, mas há necessidade disso? Nós não temos de ter vergonha de aquilo que temos ou de aquilo que somos. Eu acho que as pessoas vivem um bocado de aparências e não podem. Agora essas mesmas pessoas, já vão connosco na mesma, nenhuma ficou para trás, ganharam a confiança.

O homem tem outra maneira de estar e mesmo as mães ou os pais, a partir de uma certa idade, já eles é que sabem…E com a mulher não é bem assim. A mulher está debaixo do tecto do pai ou da mãe e aqui quem manda sou eu. Às vezes, muitas delas, casam-se para ganhar a sua independência, a sua liberdade. Já passei por algumas situações de amizades onde senti isso. Senti que ganharam a liberdade quando saíram de casa. Eu nunca tive esses problemas. Ai custa-me um bocado sentir que há mulheres que os pais pelo facto de serem mulheres dizem que já não podem isto ou aquilo. E os rapazes não, se calhar até mais novinhos já saiam à noite, já fazem assim, já podiam assado, estava sempre tudo bem porque era um rapaz. Claro que as mentalidades estão a mudar e nota-se. As coisas cada vez têm mais a tendência de mudar, as gerações cada vez tem uma mentalidade mais aberta. A gente fala dos novos, mas mesmo os cotas, acho que os nossos cotas já estão diferentes, aceitam outras coisas, já não são aqueles cotas que pararam no tempo.

 

O que significa ser motard?

É um todo, é a conquista da liberdade. Andar de carro é completamente diferente, de carro tenho a companhia do rádio, de outra pessoa. De mota sou eu, a mota, a natureza, a paisagem, a adrenalina e a liberdade que nos traz. Só realmente que anda “nestes bixos” é que sabe. Quem passa para este patamar, depois dificilmente desaparece. O nosso espírito motard é muito diferente do masculino porque o masculino é uma conquista de valor material. A mulher não, a mulher conquista por ela própria e as coisas aparecem porque têm que aparecer, porque nos pertencem.

 

Sempre tiveste apoio da tua família e amigos? Nenhum homem a tua volta te disse alguma vez que mota não é para mulheres?

Nunca ouvi tal coisa. Acho que eles gostam muito mesmo da nossa presença. Dizem que a coisa mais bonita é ver uma mulher em cima da uma mota. Nós a nível físico temos de ter consciência que somos um bocadinho menos do que eles, claro que conseguimos tudo, mas é a realidade. E eles acham estrondoso como é que uma mulher consegue movimentar estas máquinas como eles. Há um ou outro, mas é uma coisa muito rara. Eles valorizam realmente o nosso esforço, e às vezes, até incentivam as mulheres deles, devido a ver o nosso grupo andar.

 

Então os homens fomentam a participação das mulheres?

Muitos deles sim, mas há sempre excepções. Claro que se ouve certas e determinadas coisas, mas também somos um clube diferente. A mim sempre me dizem assim: “Sílvia, como é que tu consegues ser presidente de um grupo de mulheres?” Ou seja, como se um grupo de mulheres fosse um grupo de atrito, de confusão, mas não, estamos todas realmente pelo mesmo. Há mais confusões a nível masculino, porque todos querem chegar a um poleiro e as confusões começam por ai, e nós não. Porque todas têm as suas responsabilidades em casa e não querem nem pouco mais ou menos a responsabilidade fora de casa.

 

O que vos motivou a participar na Marcha contra a Violência?

Nós achamos que nos devemos apoiar umas às outras, se as mulheres se apoiarem conseguem chegar mais longe. Os homens são muito mais unidos, as mulheres precisam de se unir, seja no que for. Nós somos das motas, elas têm outras causas. Mas porque é que não apoiamos a causa delas e um dia sejam elas a apoiar a nossa causa. Temos que ser assim, temos que ser umas para as outras, senão a gente não evolui.

O meu grupo, se calhar por sermos mulheres motards e porque já tivemos as nossas conquistas, tentamos ajudar quem possa estar a passar por situações menos agradáveis. É a primeira vez que participamos, e eu vi a alegria das pessoas a baterem-nos palmas, a abraçarem-nos, houve uma energia muito positiva porque elas viram que somos lutadoras e conseguimos fazer o que os homens fazem sem problema nenhum. Estão cá, estão connosco, são guerreiras, foi isto que conseguimos transmitir e a maneira como elas reagiram, parecia que estávamos a levar um murro no estômago mas de alegria.

Confesso que, a quase todas nós nos vieram lágrimas aos olhos, chegou um momento que eu tinha o capacete na mão, estava a acelerar a mota e lembro-me de estar toda a tremer, foi uma vibração que só quem passou por essa situação é que sabe, quisermos dar um alento porque há tanta coisa boa por ai, podemos conquistar tanta coisa… Vamos embora, vamos à luta.

 

E para ti o que significou estar presente na Marcha?

Foi um todo, nós não nascemos para sofrer, porque se fosse para isso preferia não ter nascido. É normal que a vida não seja um mar de rosas, tem que haver os seus percalços porque senão também não tem graça nenhuma. Mas, custa-me ver na atualidade as mulheres ainda sofrerem como sofrem, antigamente, as mulheres não tinham trabalho, trabalhavam em casa, ficavam em casa. Hoje em dia as mulheres são independentes e conseguem tanto como o homem. Porque se sujeitar? Não se sujeitam só elas, sujeitam um todo, tudo o que esteja à volta delas, tudo sofre se elas estiveram a sofrer.

 

Sílvia Vasconcelos Lopes, Presidente do único Motoclube Feminino de Portugal.

 

Ver a luta de outras mulheres em situações de violência despertou em ti um interesse pelo feminismo?

Por acaso nunca pensei profundamente sobre isso. Eu sempre disse ao meu irmão mais novo: “Tu à minha frente nunca batas numa mulher”. Eu sempre lhe disse isto porque acho que é tão cobarde, tão cobarde, tão cobarde da parte de um homem agredir uma mulher. Eu dizia isto já desde muito nova e ele ria-se. Por algum motivo foi, se calhar, pelas situações que via na televisão e me revoltavam.

Eu vivia com os meus avós e o meu avô sempre me dizia isto: “Tu não tens os teus pais para te salvar, por isso faz -te a vida”, “ A única herança que te deixo, são duas pernas para andar e dois braços para trabalhar, de resto ninguém mais te pode dar nada”. Nós temos que lutar por nós próprias logo em primeiro lugar, da mesma forma que eu luto por mim para não estar numa situação dessas, acho triste que alguém esteja a passar por isso.

 

Achas que a luta feminista de outros coletivos, não só contra a violência, é importante para melhorar a situação das mulheres?

Claro que sim, sem dúvida, porque senão existisse isso, ainda o mundo estava muito mais calado. Há vozes, há pessoas que ouvem, há pessoas que são alertadas, há pessoas que não passaram por isso e se calhar começam a ver que existe alguma coisa para além do que não viram ou que não passaram. Acho que mostra às pessoas a parte negativa que existe, o obscuro que existe atrás disto tudo. Eu acho demasiado importante.

 

O Motoclube participa em outras atividades similares?

Nós participamos em muita coisa. Desde angariação de fundos para a menina Bruna, que quer correr em moto, mas, que não tem patrocinadores, porque é menina, o que é uma vergonha, até eventos para ajudar pessoas com deficiência a comprar cadeiras de rodas. Também colaboramos com bens para a Casa do Gaiato, a Santa Casa de Santarém ou a Casa Mãe, para jovens e crianças. Fomos lá com as motas e os miúdos adoraram.

 

Vocês fazem muita coisa, mas se calhar não têm a notoriedade suficiente.

As pessoas às vezes têm uma noção errada do motard. Só mudam de ideia depois de conviverem connosco e, principalmente, estarem em eventos nossos, porque nós não somos violentos, nós não infringimos as regras, no Motoclube Feminino ninguém infringe as regras, somos mesmo muito civilizados. Eu nunca vi porrada num evento nosso, não só nosso, como também em outros eventos motards, nunca vi. O que estragou isto foram os filmes de gangues motards, e as pessoas todas olharam para aquilo e acreditaram. Uma das maiores coisas que nós temos é a nossa união, somos muito, muito unidos.

Ninguém fica para atrás, toda a gente tem que ir, toda a gente tem que chegar, ninguém fica para trás. Por isso é que existem os grupos, senão, nem valeria a pena. Se era para eu andar sozinha, porque é que existia um grupo? É esta união que nos faz andar.

 

Se alguém cometer uma falta grave ou algum abuso pode ser expulso?

Sem dúvida, serão mesmo, mesmo as minhas sócias. Eu prefiro menos com qualidade do que muitas sem qualidade. Realmente há regras que são preciosas, principalmente o respeito, aí é que não há hipótese, daí não passa e no dia que passar…não toleramos, o nosso grupo não tolera. Vê-se logo quem entra por mal, muito pouco tempo lá fica, é que nem se torna sócia.

 

Quais são as maiores diferenças entre um motoclube masculino e o Motoclube feminino?

Há uma grande diferença nos apoios, sem dúvida, neste mundo apoiam mais aos homens que as mulheres. Os homens conseguem uma sede ou um espaço para estarem, muito rapidamente, e nós não. Nós não temos sede, a maior parte deles têm sedes cedidas em escolas abandonadas, por exemplo.

Há muita coisa que nós não conseguimos pelo facto de sermos mulheres, ainda há muita coisa. Mas eles não são responsáveis, responsáveis são aqueles que vêem as coisas ainda desta forma, é a única coisa onde eu vejo, realmente, a maior diferença.

Mas temos muitos homens também que nos ajudam, é uma verdade, se calhar não aqueles apoios que eles têm, mas depois dentro dos nossos meios ajudam-nos com o pouco que têm. Agora, as altas entidades desvalorizam um pouco, o nosso maior entrave está por ai, apesar de termos as coisas todas legais. Muitos clubes que se formaram depois do nosso, já têm uma sede, tu vês essas coisas e te perguntas: “quando é a nossa vez?”; mas, eu não culpabilizo os outros clubes, eu quero que eles também tenham, mas realmente nós somos muito prejudicadas, é isso e os materiais de roupas para nos equiparmos, existem um ou dois modelos femininos e o resto é tudo para os homens, ou seja, 98% ou 99% é para homens, aí perdemos muito pelo facto de sermos mulheres, é onde eu vejo que a coisa é mais complicada.

 

Sílvia Vasconcelos Lopes, Presidente do único Motoclube Feminino de Portugal.

 

E o que é que se poderia mudar? Chamar a atenção para os patrocinadores, sensibilizar as marcas?

Isto é muito difícil mudar, isto tem a ver com as pessoas que lutam ou não pelas coisas. Eu sou presidente deste clube, vai fazer quatro anos, mudou muito, o clube mudou mesmo muito. Tivemos  uma presidente antes, que não foi proactiva, não foi à luta, foi deixando andar, e a coisa ia andando até que, quando eu peguei no clube, nós éramos entre 7 a 10 sócias, mas só 4 ou 5 tinham mota. Já estavam até a aceitar pessoas sem mota, o que eu achei um descabimento, podem participar, queres ir connosco podes ir, mesmo que não tenhas mota, podes participar mas não podes usar o “Pano” porque não tens mota, podes conviver connosco e podes estar connosco, mas não podes pertencer ao clube. Foi uma das regras, e atualmente já somos cerca de 40.

Cresceu muito porque as coisas mudaram muito, porque houve luta, realmente, fui presidente por acaso, porque nem era para estar nessa reunião e as minhas colegas pediram-me para eu ser a presidente, a coisa alterou-se mesmo porque eu fui para a batalha, a verdade é que em todos os nossos eventos temos cerca de 500, 600 pessoas e tudo alegre e tudo feliz e aquilo não dá prejuízo nenhum. Eu costumo dizer: se o dinheiro que a gente fizer der para pagar as despesas, para mim é óptimo, é só isso que eu quero, não quero mais nada. Mas a verdade é que tem vindo sempre um pouco mais, pois o meu objetivo é arranjar dinheiro para se um dia tivermos uma sede, conseguimos reconstruir o espaço, e para isso é necessário algum dinheiro, por isso é que eu luto diariamente, por todas nós.

No meu ponto de vista, também tem a ver se és guerreira ou não para a coisa, eu costumo-lhes dizer: se aparecer alguma que tenha mais garra que eu, eu dou-lhe o meu lugar mas é na hora, e não é porque não quero estar à frente, pelo contrário, no dia que achar que estou mais cansada ou que já não tenho tanta paciência, que venha outra, e que, Deus queira que faça melhor do que eu, porque é assim que as coisas andam para à frente, só assim é que crescemos, dando oportunidade a outras pessoas a fazer mais e melhor. Vamos embora, há-de chegar uma altura que tem que vir sangue novo, têm que ser as miúdas a pegarem naquilo, têm que andar para frente.

Quando se deixa lá muito tempo uma coisa, a coisa apodrece e eu não quero apodrecer ali nem quero apodrecer o que está a minha volta, quero que as coisas desenvolvam, portanto, eu quero mulheres fortes e ativas no meu clube. As oportunidades estão lá e as oportunidades são para elas, mas, elas têm que querer, elas têm que fazer, que sejam proactivas.

Nós temos que ser unidas e temos que andar para a frente, se é para andar para trás não é preciso estar ali, ando para trás num outro lado qualquer. A mota não tem marcha atrás, é o que eu lhes digo: “a minha mota não tem marcha atrás, por tanto isto não é para andar para trás, só tem um sentido, é para a frente”. Tem que ser assim, temos que levar a vida assim e acho que realmente as mulheres deveriam ser mesmo assim, tipo a mota: não há marcha atrás.

 

O que significa para ti o teu colete?

Muita, muita, muita coisa, esforço, dedicação, amizade, respeito…Isto é uma segunda pele. Aqui está muita coisa, muito convívio, muitas alegrias, muitas tristezas, quando se perde alguém na estrada. Tem muita história, e este colete, quando eu me for embora, daqui, da face desta terra, vai ficar cá, ele não fala, mas tem tanta história para contar, tanta coisa, tantas emoções, só ele é que sabe, ele está um bocadinho já estragado pelo tempo de uso que já tem, mas, tenho pena de o trocar por um outro mais novo, já tem muitos anos, muitas histórias, até ferrugem já tem, coitadinho.

 

 

Entrevista: Marta López | Fotos: Rebeka Dávid e Borbála Kristóf

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